A tarefa de assegurar definitivamente lugar de destaque para Fortaleza no mapa mundial das cidades inteligentes e boas de se viver é ambiciosa, e, para ter êxito, requer do poder público uma permanente conduta inovadora, e, da parte da sociedade, uma busca contínua pelo usufruto pleno da riqueza de sua multiplicidade e diversidade cultural.

O lançamento, na semana passada (11/07), do Projeto Museu Orgânico, da Prefeitura de Fortaleza, reflete uma conquista da cidade na perspectiva de construção de formas especiais de observação e de articulação social voltadas para a intercontextualidade e seus impactos na potencialização dos bens intangíveis.

Tenho a satisfação de integrar voluntariamente a equipe de curadores dessa ação, ao lado do arquiteto Totonho Laprovitera, representante da Secretaria Municipal de Turismo, e do produtor cultural Jorge Pieiro, representante da Secretaria Municipal de Cultura, sob a coordenação do jornalista Moacir Maia, secretário de Comunicação da Prefeitura.

Partimos do conceito de campos de sentido aplicado à dinâmica das teias culturais urbanas, proposto por mim no livro-cd Bulbrax – Sociomorfologia Cultural de Fortaleza (Armazém da Cultura) como uma maneira de refletir sobre Fortaleza por meio de seus conectivos cruzados, plurais, diversos, simultâneos e atemporais.

A experiência do Museu Orgânico e suas galerias peculiares e autônomas pode vir a ser um marco de gestão urbana da cultura como vórtice de produção de nexos não subordinados a localismos, em um tratamento de espacialização da narrativa das regiões modais da cidade para além da distinção centro-periferia.

A elasticidade de concatenação entre as mensagens e feitos subjetivos e objetivos que constituem a sociedade tempera a fibra da cidade, enquanto conjunto potência. Um lugar começa a existir verdadeiramente quando as pessoas sentem que são responsáveis por ele e, em virtude disso, procuram construir entrelaçamentos de microethos por meio de zonas ativas de contato.

A liga entre nodos evidenciados de expressão cultural, como é o caso dos bares-galerias do Museu Orgânico, concatena um espírito de proximidade de grupos, comunidades específicas e moradores de bairros, descolado do tradicional senso de semelhança, analogia e identidade. Desse modo, a iniciativa da gestão Roberto Cláudio propicia descobertas de possibilidades de roteamento, tendo as artes e a literatura como fontes de navegação.

Não se trata de incluir a cultura nos planos de desenvolvimento, mas de pensar o desenvolvimento considerando fatores culturais e socioculturais. E a grande vantagem dos recursos imateriais é que eles já habitam os sentimentos, emoções, saberes e conhecimentos da população. Ao dar importância sistêmica cotidiana às preciosidades imateriais da cidade, a PMF investe no fortalecimento da realidade integral da vida urbana, nas dimensões físicas, simbólicas, imaginárias e existenciais.

O exercício de revolver os campos de sentido da cidade pelo que a cultura faz e pode fazer em benefício do conjunto potência é bem mais efetivo quando desconsidera o preceito frequente de que as nossas referências se encontram apenas nas ocorrências materiais. A função da existência não é um fato, assim como a percepção estética de pertencimento também não. Estes, contudo, são recursos com os quais se pode reinventar o real.