Em um século de confrontos diretos, Ceará e Fortaleza fazem o primeiro clássico dos dois clubes fora do estado, pelas semifinais do Nordestão. Dos 582 duelos realizados entre os tradicionais adversários, o Ceará venceu 198, e 176 foram vitórias do Fortaleza. A partida histórica acontecerá hoje, 28, às 21:30, no estádio de Pituaçu, em Salvador, cidade sede das fases decisivas dessa Copa de grandes torcidas. Quem vencer estará garantido como finalista da competição.

Como tem sido norma nesses tempos de pandemia do novo coronavírus, não haverá público nas arquibancadas. Os assentos do estádio ficarão vazios, mas as emoções do jogo estarão espalhadas nas cadeiras das casas dos torcedores, de cara com televisores e computadores. O jogo é de mata-mata, um tipo de regra que leva a decisão para os pênaltis em caso de empate. Os atletas das duas equipes sabem da paixão ardente dessas torcidas e, certamente, não se sentirão sozinhos em campo.

Um dos aspectos impressionantes em jogos clássicos é que as diferenças de condicionamento físico dos times, de entrosamento e de desfalques de atletas parecem zerar quando dado o apito inicial da partida. Em um enfrentamento assim ninguém quer ser surpreendido, mas é a surpresa que muitas vezes solta a faísca que incendeia o clássico. Sem gols ou com goleada, um jogo pegado, honesto e cheio de bons momentos é tudo o que se espera dos dois clubes mais expressivos do futebol cearense.

No gramado da arena baiana, os jogadores desse embate inédito se movimentarão carregando o peso das camisas alvinegras e tricolores em mais de cem anos de estatísticas e fabulações, porém com um certo alívio da pressão de duas torcidas que, contraditoriamente, costumam intimidar seus times nos momentos em que eles mais precisam de apoio e incentivo. Com portões fechados e em campo neutro, o chamado Clássico-Rei será único também por isso, em que pese a histórica superioridade de vitórias do Ceará sobre o Fortaleza.

Milhares de olhos de telespectadores estarão atentos e tensos até o último instante da partida, seja no tempo regulamentar, seja na decisão por pênaltis. O torcedor é um crédulo e está sempre sonhando com o gostinho especial da prevalência do seu time, sobretudo em um clássico. A tensão nesses casos é tão importante que muita gente prefere ver a transmissão da televisão e do computador ao som do rádio, com seus narradores mais nervosos e mais emocionados.

A nova experiência de partidas com arquibancadas distribuídas nas casas dos torcedores expande mais e mais o interesse pelo futebol enquanto atração desportiva; contudo, o pós-pandemia não prescindirá do encontro habitual daquelas pessoas que querem ver o acontecimento de perto e participar do choque das cores e das vozes apaixonadas. Por enquanto, é dia de clássico fora, não há como ser diferente.

Com a multidão de torcedores e simpatizantes distribuída nas casas por onde tem cearense mundo afora, a mística do confronto Vozão versus Leão só tende a se elevar com esse espetáculo distante. Cada um e todos torcem por seus clubes e esperam poder celebrar a vitória com domínio de bola, lances desconcertantes, belas jogadas e gols categóricos. Nada de comparações despropositadas com os “dérbis” internacionais, o que vale nessa medição de força futebolística é a bola na rede, a rixa eletrizante e o respeito entre vencedores e perdedores.