Tempos difíceis pedem soluções criativas. As tecnologias avançam e, com elas, precisam evoluir também as formas de comportamento no campo da atuação social. Em Fortaleza, uma entidade de cunho assistencial e educacional está preparando a autossustentabilidade valendo-se desse mecanismo de grande aceitação no mercado de séries, filmes, músicas e podcasts que é o streaming.

A Casa de Vovó Dedé, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) fundada há quase três décadas, na Barra do Ceará, que trabalha valorizando a potência da juventude desse populoso bairro, vai partir para a disponibilização em plataforma própria do conteúdo produzido em seus projetos. A ideia é conseguir assinaturas a preços módicos e em larga escala, mostrando o acervo decorrente da aplicação dos recursos investidos na entidade.

Esse conceito de manutenção coletiva tem tudo para dar certo, considerando os quase dois mil produtos audiovisuais já produzidos pela Casa em sua prática educativo-musical em um bairro com cerca de 70 mil habitantes, que enfrenta todos os problemas inerentes às comunidades periféricas dos grandes centros urbanos. Quem passa na calçada da Casa de Vovó Dedé nem imagina o que tem e o que acontece dentro daquele prédio de fachada simples.

Ali são promovidos gratuitamente cursos voltados para a educação através da música e seus vínculos com outras linguagens. O aproveitamento das habilidades e o desenvolvimento de competências dos jovens passam por aulas de cordas, sopros e dança e também pela formação técnica em audiovisual, fotografia, design gráfico, operação de mesa de gravação, iluminação e tudo o que diz respeito à produção de espetáculos e eventos.

Parede interna da Casa de Vovó Dedé com imagens dos diversos projetos desenvolvidos pela entidade. Foto reproduzida do site: https://www.cvdd.com.br/quem-somos/a-casa-de-vovo-dede/

Visitei a Casa de Vovó Dedé na semana passada e fiquei positivamente impressionado com a quantidade e a qualidade dos projetos que eles desenvolvem em um sistema de integração de professores, estudantes e convidados. A experiência da apreciação, do ouvir e ser ouvido, e do fazer acontecer coisas a todo instante produz conhecimento e estimula processos de trocas reais e imaginárias.

Há projetos com fins eminentemente práticos, como o “Revelarte”, que possibilita a preparação de portfólios artísticos voltados para o trabalho em casamentos, aniversários e outros eventos sociais corriqueiros; e existem projetos mais direcionados à estruturação do ser, a exemplo do “Prosearte” e sua busca de refino do ‘eu’ profundo por meio da literatura.

Com o projeto “Palco Aberto”, a entidade estimula a interação da juventude da Barra com artistas convidados ao fazer gravações de suas obras em seus estúdios, com toda a parte técnica executada por jovens aprendizes, funcionando, desse modo, como laboratório. Isso se intensifica com a promoção de concursos de música para jovens e a realização de um festival internacional de música instrumental. O aprendizado ganha força com o exercício de entrevistas gravadas para a Rádio Vovó Dedé e para a TVDD.

Esse conjunto integrado de atividades é fundamental para a constituição do sujeito no contexto do bairro e na relação familiar e comunitária. Para muitos jovens, participar de tudo isso ressoa como um prelúdio a abrir novos caminhos biográficos. O tempo da música é o tempo da satisfação estética e afetiva em outra ordem do cotidiano. A Dedéflix vai pedir, em breve, sua contribuição, mostrando concretamente como opera nas margens polivalentes do som e do silêncio.