Flávio Paiva, Nathália Cardoso e Sivirino de Caju conferindo as provas dos lambes.

No período do Carnaval deste 2021 de pandemia do coronavírus, resolvi fazer uma intervenção de arte urbana em 19 muros e paredes da cidade de Independência, no sertão dos Inhamuns, onde eu nasci, a 300 km de Fortaleza. A ideia foi tomar como referência as manifestações artísticas de rua, comuns em grandes metrópoles, para agitar o cenário do lugar que me inspirou a escrever o livro “Toque de Avançar. Destino: Independência” (Armazém da Cultura).

Chamar a atenção da população sobre a importância histórica do nome de Independência – o que até hoje era uma incógnita – foi uma maneira que encontrei de mexer com a compreensão que meus conterrâneos têm de si e do nosso mundo comunitário, considerando que o sentido das coisas é um modo de organização do olhar. A ação teve como conceito “A história do Brasil passa por Independência” na forma de grande museu urbano.

Para promover esse desfile de bravuras do “herói sem-nome” e seus feitos que garantiram a Amazônia para o Brasil duzentos anos atrás, contei com a Nathália Cardoso, que preparou a arte dos pôsteres e fez a cobertura fotográfica, e com a expertise de “Correria de Rua”, do poeta e produtor cultural Sivirino de Caju, que teve assessoria de arte urbana do Ton Almeida. Tudo com o suporte cuidadoso da Andréa Pinheiro e da Duda Lemos.

Utilizamos a técnica “lambe-lambe”, com reproduções das obras feitas em acrílica aquarelada e nanquim pelo artista plástico Valber Benevides para o livro “Toque de Avançar”, a fim de provocar um choque na cidade sobre ela mesma. Essa galeria de arte pública sintetiza em imagens a vasta pesquisa bibliográfica e de campo, envolvendo os estados do Ceará, Piauí e Maranhão, em uma expedição para a qual tive a companhia e as contribuições do meu filho Lucas Paiva e do escritor Augusto Rocha, piauiense de Oeiras, e que tem trilha musical feita em parceria com o cantor e compositor Edvaldo Santana.

Trabalhamos com pôsteres de quatro tamanhos diferentes, conforme o espaço do muro ou da parede onde as estampas foram fixadas; sendo o menor com 1,5 x 1,8 metros e o maior com 1,5 x 18,0 metros, num total de cerca de 250 metros de espaço de livre acesso, voltado para colocar na pauta comum de Independência expressões artísticas nascidas a partir de uma visão literária dos seus fatos históricos.

A proposta de transformação das ruas da cidade em espaços de exposição de obras coloridas, sob o conceito de que pessoas do lugar contribuíram efetivamente para a história do País, visa a criação de uma sustentação performativa associada ao nome Independência também como identidade geográfica, ambiental, social, cultural e política.

Mais do que uma palavra, Independência é um nome em perspectiva; um sentimento que se manifesta com consistência própria em seu sentido engrandecedor e emancipatório. Um lugar com um nome que glorifica a luta dos seus antepassados por uma grande causa é um lugar marcado para não se entregar às adversidades e, mais do que isso, um lugar que tem em sua gênese o espírito de se reinventar sempre.

Confira o vídeo da ação: