A enxurrada de acontecimentos ruins que tanto tem produzido erosão ambiental e social no mundo sugestiona a atenção pública de tal modo que tudo parece sem jeito, sem nexo. Mas não é bem assim. Nesse reino da desesperança há também movimentos contrários ao do jorro de sujeiras e de práticas degradantes, embora os deslocamentos contra a correnteza ainda não sejam tão atraentes quanto o espetáculo tempestivo do infortúnio predominante.

A sociedade, assim como a natureza, tem a sua piracema, com gente que segue o sentido das nascentes civilizadoras para reproduzir valores, significados e realizações que contribuam para a sustentabilidade. Nessa direção prossegue o Criança e Consumo, projeto do Instituto Alana que há mais de dez anos vem promovendo cuidados com a infância diante do poder de influência da comunicação mercadológica abusiva.

Estive na reunião anual da equipe com o conselho desse projeto, dia primeiro passado, no Sesc-24 de Maio, em São Paulo, e mais uma vez saí animado com a continuidade que tem sido dada a esse trabalho de sedimentação dos meios de proteção à infância, e com o surgimento de novidades agregadoras, a exemplo do EcoAtivos, nova iniciativa do Criança e Consumo em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

O EcoAtivos, que em 2018 trabalhará formações presenciais e online para inspirar projetos de educadores e estudantes em municípios das cinco regiões brasileiras, traz um aspecto muito relevante aos desafios do consumo, por explorar a questão partindo das consequências para as causas. Os reflexos da publicidade dirigida à criança se dão de forma diferente em cada lugar, daí a importância de uma estratégia pedagógica que problematize mal-estares cotidianos identificados como efeitos do consumismo.

Esse tipo de associação possibilita o despertar para uma vida mais saudável, menos pressionada pelo desejo de ter coisas, com mais interação social, segurança alimentar e potencialização racional dos recursos naturais e tecnológicos adequados ao indivíduo e à vida comunitária. A abordagem educacional estruturada a partir do aguçamento da percepção das consequências dos exageros do consumo cria condições para o desenvolvimento de habilidades e competências motivadas por essas descobertas.

A consonância cognoscitiva decorrente de oportunidades educativas marcadas pela proximidade com os problemas que impactam a escola e seu entorno gera a propensão por atitudes inversoras do estado de ansiedade presente sob a forma de droga, violência, futilidade e intolerância, onde a noção de êxito e de ascensão social é medida por gestos de consumismo explícito. Assim, a sustentabilidade passa por lugares com significado para as crianças e por situações que lhes instigam a vivenciar diferentes perspectivas em suas aventuras de viver.

Orientado para a relação direta entre consumo, sustentabilidade e cuidados com o meio ambiente, o EcoAtivos tem seu foco na reaprendizagem cultural e social cultivada na dinâmica da interconectividade e dos fluxos de engajamento resultantes da atenção fomentadora do que de fato interessa, dentro da compreensão de que todo lugar é parte de algo maior, bom de apreender, entender e realizar.