Os três primeiros colocados no I Festival da Música em Fortaleza, cuja final foi sábado passado (08) no lindo e charmoso Teatro São José, apresentaram temas bem diferentes em suas composições vencedoras. Pelas primeiras estrofes de cada uma, dá para sentir os timbres amorosos, de purificação e de caráter dramático que sintetizam bem a diversidade única da Música Plural Brasileira, que marcou o evento realizado pela prefeitura municipal.

Tom Drummond, que é da cidade, mas mora em João Pessoa, conquistou o primeiro lugar cantando: “Ô menino bonito / Que me apareceu / Como a vida seria / Se tu fosses só meu” (Menino Bonito), de sua autoria. Euterpe veio da capital de Roraima para ganhar a segunda posição, entoando: “Sete mergulhos no mar / eu vou dar, eu vou dar / Sete mergulhos no mar / vou chamar Yemanjá” (Sete Mergulhos no Mar), parceria dela com Sérgio Barros e Eliakin Rufino. E Álcio Barroso chegou do interior cearense para vencer a terceira colocação, descarregando ao piano: “A culpa que me habita / grita dentro de mim / catapulta meus tormentos / precipita meus remorsos / ressuscita / e ameaça tomar conta” (A Culpa), que ele mesmo compôs.

Essa primeira edição do festival fortalezense, que tem como propósito estimular a criação de composições inéditas a serem lançadas anualmente pela plataforma web da Rádio Terra do Sol, contou com 359 inscrições, oriundas de 17 unidades da Federação. Juntamente com o compositor Amaro Penna, a cantora Consiglia Latorre, o produtor Haroldo Holanda e o jornalista Nelson Augusto, integrei a comissão julgadora, e me chamou a atenção a impressionante variedade de ritmos, gêneros e estilos musicais apresentados. Gravações de todo jeito e qualidade, revelando a vontade de artistas de todo o país de participar, mostrar o que estão fazendo e, claro, de concorrer às premiações de trinta, dez e cinco mil reais, incluindo, para o primeiro colocado, o direito de abrir o réveillon de Fortaleza 2019, na Praia de Iracema.

A organização do evento, idealizado pelo jornalista Moacir Maia, com produção executiva do também jornalista Hermann Hesse, inovou no processo de remessa e de análise das músicas concorrentes, com expertise de TI de Haroldo Maranhão, facilitando as inscrições e a seleção. As participações ao vivo foram acompanhadas por uma banda formada por músicos de reconhecido valor, com direção musical de Tarcísio Sardinha, mesmo grupo que basicamente participará das gravações de um CD com as doze finalistas. A noite de encerramento foi iluminada ainda com uma homenagem ao cantor Rossé Sabadia (1962 – 2018), um revival de Ricardo Black, que cantou Latitude, composição minha em parceria com Tato Fischer, com a qual ganhou o prêmio de Melhor Intérprete do V Festival Canta Nordeste (1995), e a alegria sanfonada do caririense Fábio Carneirinho.

A decisão do prefeito Roberto Cláudio é tornar esse festival uma política pública de cultura, com apoio transversal de diversas secretarias do executivo municipal. Como ele ainda tem dois anos de mandato, pelo menos as duas próximas edições do evento já estão asseguradas. A contar pelo êxito deste primeiro ano, a tendência será um crescente participativo que certamente incluirá Fortaleza no mapa de potencialização da inventividade musical brasileira.