A formação de uma união política para o enfrentamento do flagelo de feitio totalitário, desumano e antiecológico que castiga o Brasil tem se mostrado difícil de ser concretizada, mas não há outra escapatória senão acreditar e insistir para que haja a construção de consentimento nesse sentido. Isso mesmo, nada de resistência, a palavra de ordem precisa ser insistência. Insistir na esperança, no desejo de bem viver, no poder da cidadania orgânica e na reabilitação de um sistema político voltado aos interesses e aspirações da sociedade civil.

O que está em questão não é apenas dar um basta no processo de insolvência generalizada a que está sendo levado o país, mas também produzir sinais revigorantes das suas forças sociais, culturais e econômicas. Por isso, a formação de uma frente ampla, capaz de atender a esse duplo propósito, necessita de alguns campos de convergência para a articulação de compromissos. Acredito que democracia, humanismo e ambientalismo são conceitos essenciais que atenderiam a esse fim, de modo que os envolvidos pudessem deixar temporariamente de lado parte de suas divergências programáticas.

Não faz sentido compor uma frente ampla com políticos de vieses antagonistas, tendo-se em conta que, nessas circunstâncias, os situacionistas e fisiológicos sempre se movem para onde tende o pêndulo do poder. O presidente não está sozinho; há toda uma horda de predadores que patrocinam o serviço sujo que ele faz. É bom que esses patrocinadores diretos e indiretos da sangria do Brasil fiquem onde estão, para que briguem entre si e sejam afastados do comando do país em uma só leva.

Embora com finalidade específica, essa frente política necessita de novos aprendizados para não ser apenas uma coalisão obsoleta, geradora de mais desalento social. A experiência recente de aliança desregrada entre uma alternativa de poder ao sistema dominante e o que existe de mais atrasado na política brasileira acabou em um impeachment ilegítimo e na criação das condições para a eleição do que havia de pior no espectro de candidaturas nas eleições presidenciais passadas. Está provado que o ‘xacomigo’ não funciona.

Concentrando-se no que une democratas, humanistas e ambientalistas, a frente ampla terá estabelecido o filtro suficiente para a formação de massa crítica em favor do estado democrático de direito, da justiça social e dos cuidados com o meio ambiente, campos indispensáveis para colocar o Brasil em condições de dar a volta por cima dessa onda de mentalidade nefasta que tem empurrado o país à bancarrota. Essa é uma realidade que tem de ser enfrentada. Insistência é o substantivo, insistir, o verbo!

Uma frente ampla, destituída de conceitos catalisadores, formada simplesmente pela vontade de destituir um suposto inimigo comum, é um risco, pois pode se tornar um rolé de oportunistas, suscetíveis aos encantos da velha política. A necessidade imediata deve ser tratada com a emergência devida, contudo, em que pese o isolamento das ideologias de retrovisor, é fundamental a articulação de uma agenda comum capaz de abrir espaço no debate nacional para seguir em frente, respeitando os princípios facilitadores da confluência, assegurando que, mesmo em caso de insucesso no curto prazo, a sociedade perceba que pelo menos existe uma oposição e uma perspectiva de mudança de rumos na triste sina brasileira.