No momento em que a professora Izolda Cela assumiu o cargo de governadora do Ceará, no sábado passado (2/4), acendeu-se sobre esse feito um holofote direcional oriundo das conquistas das mulheres no Ceará. Passados mais de dois séculos da emancipação da Capitania do Siará (1799), pela primeira vez uma autoridade feminina chega à cadeira número um do executivo estadual.

Esse feixe de luz destaca na cena política cearense e brasileira avanços nem sempre visíveis da atuação da mulher nos campos da política, da educação, das artes, da literatura e do pensamento. Neste caso, ao entrar no Palácio da Abolição, Izolda conta com a companhia luminosa feminina de distintas épocas e recantos, relevantes no processo de transformação social cearense.

São muitas as lutas históricas com participação de mulheres a clarear os destinos do Ceará. Lutas republicanas, presentes na firmeza de Bárbara de Alencar, lutas abolicionistas e de valorização da cultura negra, que unem Tia Simoa, Maria Tomásia e Verônica Carvalho, e lutas historiográficas, campo de batalha de Simone de Souza e Isabel Lustosa.

Nas lutas pela educação, das quais a própria governadora é guerreira, acende-se a memória de Alba Frota, Nildes Alencar, Luiza Teodoro e Maria Yedda Linhares, entre tantas outras educadoras que proporcionam às gentes cearenses oportunidades de poderem se sentir capazes; uma resplandecência espelhada na ação cultural de Violeta Arraes e na arqueologia participativa de Rosiane Limaverde.

O mundo do jornalismo tem expressões fortes e dinâmicas no talento de mulheres como Adísia Sá, a primeira trabalhadora das redações no Ceará, e Creusa Rocha, Albanisa Sarasate e Luciana Dummar, líderes empresariais da comunicação. A luta editorial pelo livro e pela leitura se estende de Henriqueta Galeno a Albanisa Pontes, em um universo que imanta Francisca Clotilde, Rachel de Queiroz e Ana Miranda.

O engajamento pelos direitos da mulher e pelo fim das disparidades de gênero tem feixes luminosos que clareiam a atuação da pensadora e militante Heloneida Studart e da farmacêutica Maria da Penha, cujo nome virou lei no combate à violência doméstica e ao feminicídio no Brasil. Pode-se realçar ainda nessa luta nomes como o de Maria Luiza Fontenele, a primeira prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins e Larissa Gaspar.

“Os pássaros e as cores vibrantes”, da grafiteira paraense Michelle Cunha.

As lutas pelos direitos dos povos indígenas no Ceará têm a cara da indigenista e missionária Maria Amélia Leite, e da Cacique Pequena, representante da etnia jenipapo-kanindé que se tornou a primeira chefe de um grupo indígena brasileiro. No plano fundiário, a questão indígena aproxima-se dos sem-terra e da agricultura familiar. Nesse ponto crítico da vida no campo, destaca-se o canto de Nazaré Flor, poeta e agricultora fundadora do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste.

Fortaleza reflete o brilho da juventude em projetos educativos de integração e formação por meio da arte, com efetivo impacto na vida de crianças e adolescentes, como a Edisca, da bailarina e coreógrafa Dora Andrade, e a Casa de Vovó Dedé, da pianista Regina Barbosa. Em todas as áreas, a cultura cearense tem mulheres notáveis. Nomes como Jovita Feitosa, Ciça do Barro Cru, Nice Firmeza, Solange Teixeira, Tita Tavares, Téti, Bia Castro e Karla Karenina também integram a fonte de energia do feixe de luz feminino que clareia a representação da governadora Izolda Cela.