A conquista do prêmio de Melhor Intérprete no Festival de Música de Fortaleza 2020 por Antônio Jefferson Pereira Silva, o Jeffe, traz sangue novo, cara nova e jeito novo de representar a música da cidade. Morador do Papicu, Jeffe chegou com a força, a desenvoltura e a alegria dos talentos que circulam pelos bairros, mas raramente têm chances reais de romper as barreiras dos campos culturais que os marginalizam.

Fortaleza é uma cidade musical diversa, com uma história espetacular de grandes artistas, embora mal contada, abafada e tautológica. Foi na capital cearense que nasceu Alberto Nepomuceno, um dos pioneiros na construção da preciosa e monumental música brasileira. Houve uma época, lá pela primeira metade do século passado, que a influência dos compositores e cantores que faziam a cena musical fortalezense era tamanha que artistas de norte a sul do pais criaram e cantaram sucessos nacionais em homenagem às coisas do Ceará.

Jeffe, Melhor Intérprete do Festival de Música de Fortaleza 2020, e Shirley Diógenes, autora de “Se eu fosse eu”, Melhor Música do Festival de Música de Fortaleza 2020.

Em seus quase 300 anos, Fortaleza já tocou e cantou sátiras, cantigas boêmias, músicas catingueiras, loas de maracatu, canções carnavalescas, pop, rock e toda sorte de obras populares, cults e bregas. Só de forró, temos uns dez tipos, sem contar com uma música instrumental e um canto coral de valor, e que já criamos até símbolos próprios como o ritmo balanceio e a marca Pessoal do Ceará. Algumas das nossas criações tornaram-se comerciais e outras não; umas seguiram solitárias e outras em intenso diálogo com outras linguagens, todas, porém, necessárias a uma cidade cujo nome vem de forte e quer ser a fortaleza da música no Brasil.

A revelação do Jeffe, interpretando com autenticidade e qualidade a composição vencedora do Festival, “Se eu fosse eu”, de Shirley Diógenes, compositora da Cidade dos Funcionários e professora de expressão corporal, desafia Fortaleza a se encontrar nos sentimentos que estão presentes no seu todo. Dando oportunidade a artistas que fazem a sua metanarrativa sonora, nossa cidade seguirá atraindo e acolhendo também quem vem de fora para esse ensaio de ebulição musical, que amadurece a cada ano.