A guitarrista, compositora e cantora gaúcha Laura Finocchiaro aproxima-se de quatro décadas de carreira independente e está organizando em suas redes sociais um desfile comentado de mais de uma dezena de álbuns próprios e de mais de cinquenta coletâneas das quais participa em produções brasileiras e internacionais. Sempre revigorada por emoções inspiradas nas lutas sociais, sobretudo nas causas da comunidade LGBTQIA+, ela revela em sua obra um mergulho nas profundezas do livre amar e suas diversas formas de experimentação e expressão.

A ressonância na própria pele dos processos de formação da conscientização da diferença, ainda tão fortemente abafados pelas assimetrias sociais de gênero, imprime na música de Laura a vibração por um mundo mais criativo, mais vivo e mais poético. Ela é uma catalisadora de pulsões de cores no labirinto escuro de um tempo tão esvaziado de tolerância e tão cheio de ganância. Consteladas na alteridade e não na autoridade, no poder desarmado e não no belicismo, suas energias audíveis e visíveis realçam o significado existencial da artista.

Laura Finocchiaro estreou em disco logo após sua participação no Rock in Rio II, no estádio Maracanã, em um palco que teve Prince, Santana e Alceu Valença. O álbum, cujo título traz o seu nome, tem repertório misto de composições próprias e releituras de músicas brasileiras, martinicanas e sul-africanas. Antes, porém, cumpriu assiduidade nas casas noturnas alternativas paulistanas, fazendo história na marcante boate Madame Satã, e tendo a composição Tudo é Amor, parceria com Cazuza, gravada por Ney Matogrosso no álbum Quem não vive tem medo da morte (1988).

Laura Finocchiaro em seu home studio, no Rio de Janeiro, onde mora. Foto de Sheila Gomes.

Seguiu transitando na cena underground, fazendo parcerias com Tom Zé, Caio Fernando Abreu, Cassandra Rios e Leca Machado, sua parceira musical mais constante. Além de gravada por Cazuza e Ney Matogrosso, Laura Finocchiaro tem obras interpretadas por Edson Cordeiro, Chico Chico (filho da Cássia Eller), Vange Leonel e pelo grupo 50 Tons de Preta. Em seu som do livre amar, a artista passa ainda por conotações sagradas, a exemplo do álbum Tashi Delê Mantras de Roda, com evocações proferidas por Buda Shakyamuni, transcritas por Lama Gangchen Rinpoche e musicadas por ela.

Fora do circuito independente, Laura tem trabalhos de curadoria e criação musical para televisão, em programas como a Casa dos Artistas (SBT), A Fazenda (Record) e o infantil TV Colosso (Globo), e trilhas para cinema, a exemplo do filme “Cassandra Rios – A Safo de Perdizes”, de Hanna Korich. Laura Finocchiaro é figura presente no circuito das lives semanais do coletivo Minas Sonoras, onde são abordados temas da participação feminina no mercado brasileiro de música independente.

Quem se dispuser a acompanhar as publicações de Laura Finocchiaro no Instagram, Facebook e Youtube vai encontrar relatos e curiosidades de álbuns, como o antológico Ecoglitter (1998), e playlists com vídeos que contam a trajetória dessa artista incomum e sua combinação de linguagens que se estendem do pop ao baião, passando por rock, eletrônica e frequências espirituais milenares. Encontrará também uma artista em mais uma volta na sua espiral criativa, produzindo um novo álbum, em home studio, incluindo composições recentes, tais como A Vagar, com Jorge Salomão, e Asfixia, comigo, que refletem o momento pandemônico brasileiro.

Ouça Asfixia: