A pintura do MINO nos impulsiona a acompanhá-lo na experiência criativa e imaginosa que ele tem desenvolvido seguindo as linhas e os traços dos grandes mestres. Formado por um irresistível apelo estético, seu trabalho faz uma releitura de temas famosos, a partir de combinações ancoradas no olhar contemporâneo. É uma espécie de túnel do tempo, cujas paredes espelhadas refletem fragmentos móveis de obras e autores que marcaram a história das artes plásticas.

Sentir esse universo de fusões é como participar de uma exposição imaginária, de um jogo de realidade virtual, da arca misteriosa do belo. MINO é um Noé e, como tal, vem recolhendo no dilúvio da nossa memória coletiva formas e cores para a sua metáfora de equação pictórica. Nesse exercício, ele não vê limites para o número de mestres que, como aprendiz, deseja ter.

Assim, acabou ampliando o enigma da Mona Lisa, de Da Vinci, reproduzindo-a com quatro olhos, ou, ainda, colocando-a para servir de fundo à pose do pensativo Dr. Paul Gauchet, de Van Gogh, ao telefone, numa ligação inusitada, sem dúvida. Em outro quadro, faz com que Van Gogh empreste seu crespo céu como cenário para uma mulher de Picasso. Deste jeito, MINO costura, em pinceladas seguras, a sua brincadeira de encontrar o contemporâneo no passado.

E faz isso, dando um toque de calor táctil que a matemática dos fractais não consegue projetar nas telas dos computadores. No Bar Chagall, por exemplo, vários elementos dos diversos quadros do pintor russo são reunidos em uma só tela, respeitando o toque de leveza, as nuances e a atmosfera de seu estilo. MINO reúne esses detalhes com muita habilidade. O mesmo cuidado com que junta Miró, Matisse, Modglianni e Picasso em uma exposição de quadros de outros pintores, como Aldemir Martins e dele próprio, cujos personagens observam também aquele encontro surreal.

Algumas das situações que recebem a atenção em acrílica de MINO são bastante cotidianas, como se pode observar no quadro A Empresa, no qual diversas logomarcas inéditas revelam que por trás do pintor e sua pintura, há um experiente desenhista e seu desenho, bem como existe um sólido caminho percorrido no campo das artes gráficas. Caminho esse facilmente perceptível em Shampoo Renoir, onde o programador visual, o criador de marcas, símbolos e embalagens se faz presente no pequeno vidro de shampoo que integra a paisagem das banhistas do pintor francês.

MINO, que também gosta de escrever, de filosofar e que, como cartunista, pode ser comparado ao argentino Quino, põe também a sua genialidade em favor da pintura, em um imensurável caleidoscópio do tempo, promovendo encontros de pinturas de grandes mestres das artes, que são encontros consigo mesmo, com o seu talento e inquietação.