O que será abordado de Paulo Leminski na palestra?

Flávio Paiva – Abordarei o Paulo Leminski criador experimental, biógrafo existencialista, desconstrutor de discursos totalizadores e praticante de uma poética plástica e elástica, aproximada por significados e sensações. Um ponto que procurarei dar destaque é o tanto que ele esteve sintonizado com a tendência do surgimento da diferença como um valor, quando o sentido de universal começou a ser substituído pelo plural com o despertar da consciência forçado pelas questões ambientais e geopolíticas. Ele era capaz de ler os Sertões e ver na obra de Euclides da Cunha um haicai: “a terra / o homem / a luta”. Ou seja, o ambiente, o agente e o efeito do encontro dos dois. É sempre muito rica assim a perspectiva poética leminskiana.

2 – Quais principais aspectos da vida de Paulo Leminski serão abordados?

Flávio Paiva – Faço também comparações da potência revelada por Leminski, como um observador do ser pessoa, com outros apaixonados pelo pensamento como ele, a exemplo do filósofo Immanuel Kant; partindo do fato de que nem ele nem Kant precisaram sair dos seus lugares de origem para serem cosmopolitas. Tento chamar a atenção para um Leminski que é um bom exemplo de paradoxo das motivações culturais em um país colonizado ruminante. Tudo em um fluxo que passa por vários interesses e se estende da oração à vodca e desagua em uma produção tornada possível por conta de muita disciplina.

3 – Como foi sua preparação para a palestra?

Uma das razões que a família de Paulo Leminski expôs quando me convidou para falar sobre o poeta, como parte da programação da mostra Múltiplo Leminski em Fortaleza, foi o fato de, assim como ele, eu não estar associado a um ou outro tipo de rótulo e de recorrer a diversos meios e linguagens para dizer o que sinto vontade de dizer, quer no jornalismo, na literatura, na música, enfim, no que chamo de prática de cidadania orgânica. Desse modo, fiquei muito à vontade para fazer uma reflexão sem amarras e ao pensar sobre a intensa inventividade poética de Leminski encontrei paralelos incríveis, como o do desafio da noção de perigo, comum aos praticantes de esportes radicais. Foi daí que partir para escrever o ensaio que está sendo publicado na edição especial da RIvista do MINO, o que serviu de base para a minha palestra “Na plenitude das margens”. E, claro, contei com o apoio de pensadores que vão de Ruth Benedict a David Cooper, passando por Flávio Kothe, Elizabeth Rocha Leite, Slavoj Žižek e escritos de Alice Ruiz, Áurea e Estrela Leminsli, ou seja, antropologia, psiquiatria e semiótica, entre outras referências.

4 – A revista que será também lançada amanhã, é sobre a vida de Paulo Leminski? Como foi a produção?

Flávio Paiva – Não, enfoco aspectos do sentido existencial encontrado por ele no jogo desafiador com palavras, imagens e sons, em diálogo com a sua condição de renovador da poesia no Brasil.

Isso foi o que respondi ao jornal por e-mail; a matéria saiu assim:

A poética de Leminski em debate
Jornal O POVO – Vida & Arte, pág. 3, 06/10/2015 

FAC-SÍMILE

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Por Camila Gadelha

A Caixa Cultural Fortaleza apresenta hoje, 6, às 19h30min, palestra do jornalista e escritor Flávio Paiva sobre a vida do poeta Paulo Leminski. A plenitude das margens – Uma poética do fluxo leminskiano, título da fala, é uma das ações da exposição Múltiplo Leminski, que fica em cartaz até 8 de novembro. Na ocasião, também será lançada o número 163 da publicação Rivista, com um ensaio do colunista do O POVOsobre o artista curitibano e sua obra.

Segundo Paiva, a ideia da palestra é explorar a obra do poeta como “criador experimental, biógrafo existencialista”. Artista que transita por vários tipos de produção – do jornalismo à música, passando pela literatura infantil -, o cearense diz que o fato de não ser associado a nenhum tipo de rótulo, tal qual o homenageado, foi um dos motivos de ter sido convidado para falar sobre Leminski.

“Fiquei muito à vontade para fazer uma reflexão sem amarras”, diz ele. A ideia das margens, explica Paiva, se deve ao caráter metafórico da fertilidade em que Leminski, multiartista como era, se sentia mais ambientado.

Múltiplo Leminski, que chegou a Fortaleza em 16 de setembro, já teve show, mostra audiovisual, ação de grafite pelas ruas de Fortaleza e agora receberá a palestra. Fotos, livros, pinturas, poesias, músicas, quadrinhos e outros itens do poeta ocupam duas galerias da Caixa Cultural.

SERVIÇO
A plenitude das margens – Uma poética do fluxo leminskiano
Quando: Hoje, 6, às 19h30min
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (avenida Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Gratuito (sujeito a lotação do espaço)
Telefone: 3453 2770

Fonte: O POVO