As duas comemorações são no mesmo dia e não anulam uma a outra. O Dia do Saci prega a perpetuação da cultura e do folclore brasileiro

——-

O Dia das Bruxas, Halloween em inglês, que surgiu nos Estados Unidos, ganhou o mundo e é uma das datas comemorativas mais lucrativas e comerciais sob o pretexto de “doces e travessuras” e pela compra de fantasias e adereços. No Brasil, a abrangência não é diferente, mas há quem defenda que o dia seja comemorado sob outra ótica e destaque outro protagonista: o Saci Pererê.

Pensando em homenagear e perpetuar a cultura do País e ir de encontro ao consumismo e comercialização que acontecem no Dia das Bruxas, estudiosos e entusiastas do foclore brasileiro criaram o Dia do Saci e instituiram a celebração para o mesmo dia do Halloween. A ideia surgiu da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), criada em 2003 em São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, para estudar não só o saci, como outros mitos brasileiros.

Flávio Paiva, colunista de cultura do O POVO e membro da Sosaci, explica a escolha da data. “A ideia que fosse no mesmo dia foi pra criar um conflito e ir de encontro com a data estadunidense. Não é uma festa ‘do contra’, é uma festa para dar alternativa a quem gosta desse tipo de manifestação e quer celebrar a brasilidade”, aponta.

O Dia do Saci pode ser considerado um tipo de “oposição” ao Dia das Bruxas, mas a crítica é apenas ao grande consumismo que acontece na época do Halloween, segundo Paiva. “É a segunda maior festa de consumo dos Estados Unidos, ficando atrás apenas do Natal. É normal ter chegado ao Brasil com os cursos de inglês etc., mas aí a coisa foi tomando dimensões e começou a extrapolar”, comenta o articulista, que se considera ativista de “sacizada”.

 

Importância histórica

Paiva afirma que a escolha do Saci para nomear a data, em meio a outros seres fantásticos do folclore brasileiro, é o fato de o personagem ser conhecido em todo o País. “O Saci Pererê é um mito unificador nacional. Segundo as histórias, ele já estava no Brasil antes dos colonizadores. Você chega em qualquer estado brasileiro e as pessoas o conhecem”, comenta.

O personagem, que ficou conhecido na obra “Sítio do Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato, muito tem a ver com “doces e travessuras”. Negro, com uma perna só e fumando seu cachimbo, Saci se diverte assustando e pregando peças em quem passa na floresta. Ele não se distancia do conceito de “doces ou travessuras”.

Em alguns municípios brasileiros o Dia do Saci é decretado por lei, o que não configura feriado. No Ceará, Fortaleza e o município de Independência têm a data garantida legalmente. Flávio Paiva destaca que a determinação dá respaldo ao momento. “Se uma professora, por exemplo, quiser fazer uma ação em uma escola, ela tem isso garantido em lei”, diz.

Todo ano, festejos em alusão à data são realizados. A programação de mais força acontece justamente em São Luiz do Paraitinga, de onde surgiu a ideia do Dia do Saci e sede da Sosaci. Neste ano, a 16ª festa aconteceu entre os dias 26 e 28 de outubro no município e contou com apresentações teatrais e musicais, além de exposições e contações de histórias.

Em Fortaleza, o personagem foi homenageado na 9ª edição da “Festa do Saci”, tradicional do Bloco Unidos da Cachorra. O evento aconteceu na última sexta-feira, 26.


LEIA TAMBÉM:
O Saci Pererê e a perna invisível
SACIabilidade imaginária


LIVROS DE FLÁVIO PAIVA SOBRE O TEMA:
A Festa do Saci
Se você fosse um Saci


FESTA DO SACI PELO BRASIL:
Galeria de Imagens da Festa do Saci