Voz e carne do Padre Cícero
Jornal O POVO, Caderno Vida & Arte, pág. 5, 24/03/2014 

FAC-SÍMILE
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Por Raphaelle Batista

Das várias facetas de Cícero Romão Batista, a rebeldia sempre foi a que mais despertou a atenção do escritor Flávio Paiva. Não que a figura política e polêmica, ou o personagem santificado pela fé popular, não parecesse interessante. Mas, para o autor, o “padim” não cabia nessa linha curta entre bem e mal.

“Ele foi alguém que conseguiu sair do real para fazer parte do universo do discurso”, diz Paiva. E, no discurso, as possibilidades de apropriação são imensas. Apoiando-se nisso é que o jornalista cearense lança hoje o livro Ciço na guerra dos rebeldes, uma ficção histórica que reconta episódios importantes da vida de Padre Cícero, sua rebeldia, e justifica um tanto mais a aura de mito do personagem.

O lançamento, que acontece no Mambembe Casa de Arte, às 19 horas, não foi marcado para esta segunda-feira à toa. Hoje é também o dia em que se completam 170 anos do nascimento de Padre Cícero, um homem capaz de, muito tempo depois, ser um “ponto de convergência e de dispersão das culturas nordestinas em Juazeiro”, observa Paiva.

Desde muito tempo, o autor vinha estudando a história do mito cearense. Mas a proposta do livro só surgiu dois anos atrás, com uma provocação de José Cortez, dono da editora Cortez, responsável pela publicação de Ciço e de pelo menos outros seis livros infantis de Paiva. “Ele perguntou sobre qual cearense eu escreveria e eu respondi que muitos, mas certamente o Padre Cícero seria o cara que eu mais teria gosto”, conta o escritor.

A partir daí, o desafio foi achar um mote que não ficasse limitado nem ao político nem ao santo. E a saída foi trazer à tona o anti-herói. O homem que desafiou a igreja, abençoou cangaceiros e, numa de suas maiores qualidades, aponta Paiva, soube enxergar potência nos pobres do povoado de Juazeiro, “que é um erro que a gente comete, enxergar as pessoas pelas suas carências”.

Ciço
Assim nasceu o livro infanto-juvenil — mas permitido para adultos, sublinha Paiva — de 93 páginas e oito episódios da vida de Padre Cícero. De sua chegada ao Seminário da Prainha, em Fortaleza, de onde saiu ordenado, até a morte de Virgulino Ferreira da Silva, com quem o padre encontrou-se uma única vez, em 1926, e não lhe negou a benção.

Por ser todo estruturado em diálogos, Paiva conta que uma das dificuldades da feitura de Ciço na guerra dos rebeldes foi pesquisar as histórias e personalidades dos personagens reais que passaram pela vida de Padre Cícero e pelo livro. Com a licença da ficção, o autor reinterpreta as ações e pensamentos dessas figuras históricas.

A obra, que ganha ainda mais vida com as ilustrações do mineiro Angelo Abu, traz ainda um capítulo especial com as diversas manifestações artísticas que se encontram na terra do Padim. O lançamento, além de contar com sessão de autógrafos, marca também a abertura da exposição “De Percepções Sobrepostas”, da fotógrafa Raíssa Veloso, com fotos de Juazeiro.

Serviço
Lançamento hoje de Ciço na guerra dos rebeldes

Autor: Flávio Paiva
Onde: Mambembe Casa de Arte (rua dos Tabajaras, 368, Praia de Iracema)
Preço: R$ 29