Na história do desenvolvimento econômico do Ceará existe um triste ponto em comum: todos os grandes ciclos de produção foram voltados para a concentração de riqueza e de oportunidades. Exploradas à exaustão, as atividades do gado, do algodão, da cera de carnaúba, da mamona, da lagosta, do caju, do granito e outras menos significativas atravessaram séculos sem promover equidade social.

Com o advento da energia solar fotovoltaica, o Ceará tem uma chance excepcional para realmente se desenvolver, não somente em função do mercado, mas efetivamente da melhoria das condições de vida da sua população.

Os efeitos dos avanços das mudanças climáticas, com aumento da temperatura no planeta, declínio da biodiversidade, elevação dos níveis dos mares e todo tipo de desastres naturais, deram um ultimato às matrizes energéticas de combustíveis fósseis, biomassa e urânio. Diante dessa realidade catastrófica, o mundo clama por energias limpas e renováveis, e aí o Ceará tem um destacado potencial de insolação como vantagem comparativa.

É positivamente espantosa a condição do território cearense para a produção de energia solar fotovoltaica. Imagine que a potência instalada de todas as fontes de geração de energia no Brasil é de 176GW e o potencial de energia solar no Ceará é de 643 GW. O gigawatt (GW) é uma medida de potência utilizada para grandes escalas, e equivale a mil milhões de watts.

Se é possível ao Ceará ter, somente com a energia tirada do sol, mais de três vezes e meia, repito, a potência instalada de todas as fontes de geração de energia do País, terá chegado a hora do grande salto econômico e social cearense. Essa será a maior e principal atividade econômica do devir cearense, e resta saber como escapar de um passado marcado por ciclos econômicos que geraram tanta desigualdade social.

Eclipse (1959). Tela do pintor cearense Antônio Bandeira (1922 – 1967).

As cerca de 700 empresas do setor, atualmente instaladas no Ceará, têm demandado profissionais para empreitadas que se estendem desde a elaboração de projetos até a instalação de sistemas. O Senai-Ceará, o Sindienergia e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) vêm promovendo a capacitação de quem trabalha nessas empresas. Isso é fundamental para a qualidade dos serviços prestados, sobretudo com o crescimento da busca por painéis de geração de energia própria em casas, prédios, sítios e fazendas.

A preparação mais ampla de profissionais para a economia solar requer, contudo, a participação ativa dos centros de ensino técnicos e acadêmicos. Nesse sentido, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que está presente em 35 municípios de todas as regiões do estado, tem interagido com centros tecnológicos europeus, chamando para si a responsabilidade de qualificar as pessoas na formação técnica, de graduação, pós-graduação e pesquisa no campo das energias limpas e renováveis, na perspectiva do hub cearense de exportação de Hidrogênio Verde.

O engajamento da sociedade como um todo na compreensão plena da grandiosidade e da revolução dos padrões de desenvolvimento que traz a economia da energia solar é de suma importância. A falta dessa consciência fez com que até hoje a população praticamente se contentasse em ser apenas instrumento de quem a quisesse explorar. Aberto à população, o horizonte descortinado pelo alvorecer dessa nova economia poderá trazer uma inflexão entre a mentalidade colonial ainda predominante e outra que seja capaz de pensar o Ceará como um lugar de gente que possa viver com renda decente e vida digna.