A convite do fotógrafo Maurício Albano, Flávio Paiva apresenta o álbum “Fauna & Flora – Maciço de Baturité” (SOS Mata Atlântica, J.Macêdo e Brahma), com imagens de resquícios de Mata Atlântica no Ceará, acompanhadas de poemas do compositor e arquiteto Fausto Nilo.


Sangue de águas barrentas

Flávio Paiva

Em meio à amplidão do semiárido cearense algumas regiões destoam da paisagem cinza com uma revigorada expressão de fauna e flora, vestígio da Mata Atlântica brasileira devastada ao longo de cinco séculos. São espécies que formam verdadeiras reservas de rara beleza, como as encontradas no Maciço do Baturité, floresta úmida e atrativa ao apetite insaciável do machado daqueles que não conseguem exercer uma mediação entre a simples sobrevivência, a especulação e a própria vida. A natureza sangra em águas barrentas que carregam os solos e com eles a matéria orgânica e os nutrientes minerais indispensáveis ao seu equilíbrio. Fauna e flora parecem oxigenadas pela esperança de que serão preservadas. Vegetais insistem em dançar ao vento, assim como aves e animais ainda se deixam ser vistos e até fotografados em liberdade. Uma liberdade vulnerável e oscilante, como um alerta para que os seres humanos, indiferentes a tantas belezas naturais, não morram de solidão e melancolia.