Revista Educação – Música – Fevereiro de 2002

Pais e Filhos
por Alexandre Pavan
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O poeta José Paulo Paes, um dos grandes nomes da poesia infantil brasileira, costumava citar o escritor russo Maximo Gorki para explicar o sucesso de sua arte com os pequenos: “Deve-se escrever para crianças como se escreve para adultos, só que melhor”. Com a música acontece a mesma coisa.

Na última década, devido aos avanços tecnológicos, ficou fácil e relativamente barato gravar CDs. E, enquanto as grandes empresas fonográficas investiam no público infantil apostando apenas nos artistas cujo sucesso estava vinculado à televisão – vide os discos de apresentadoras -, começaram a surgir compositores com uma proposta “alternativa”. O principal exemplo é o de Sandra Peres e Paulo Tatit, fundadores do Selo Palavra Cantada, que se tornou referência em disco para crianças.

Outros compositores, a maioria produzindo seus trabalhos de forma independente, também vêm se arriscando nessa seara musical. Temos como exemplo três trabalhos distintos, lançados nos últimos meses: Toda Família, de Roseli Novak; Flor de Maravilha, de Flávio Paiva; e Do Fundo do Baú, de Fernanda da Costa Pereira.

No primeiro, aproveitando sua experiência de 12 anos como educadora musical, Roseli Novak criou um CD de primeira, valorizando os sons acústicos das três famílias dos instrumentos: sopros, cordas e percussão. Todas as músicas são de sua autoria, com letras divertidas, melodias bem construídas e ritmos envolventes.

Flor de Maravilha é um projeto maior, que envolve música, jogos e brincadeiras – são dois CDs interpretados pela cantora Olga Ribeiro (Samba-le-lê e Bamba-la-lão) e um livro que reúne historinhas, ilustrações, letras e partituras das músicas dos discos. O cearense Flávio Paiva é jornalista e estreou no mundo das canções para crianças em 1994, com o CD Rolimã (Camerati). Compõe com muita desenvoltura, de um jeito que o ouvinte fica com a impressão que fazer música é uma coisa fácil. O disco Bamba-la-lão, gravado em 2001, é uma espécie de continuação do Samba-le-lê, de 1999, álbum que já foi tema desta coluna. 

Já Do Fundo do Baú é um livro-CD interessante. Mostra o resultado do trabalho musical que o Instituto Educacional Stagium, de Diadema (SP), desenvolveu em 2001 com seus alunos da educação infantil e primeira série do ensino fundamental. Os estudantes pesquisaram cantigas, trava-línguas, parlendas e brincadeiras do folclore brasileiro, para depois cantá-las em disco e registrá-las em livro. O projeto só deixa a desejar na concepção dos arranjos, que soam muito artificiais. Mas o Stagium soube levar a música para a sala de aula de uma maneira atraente para seus alunos.