Diário do Nordeste – Caderno 3 – Fortaleza, 28/08/1997

por André Marinho

O resultado de três pólos de miscigenação e influências culturais diferentes pode ser conferido hoje, às 22 horas, no Domínio Público, durante o show de lançamento do CD “Terra do Nunca”, do jornalista e compositor Flávio Paiva. Ele abre o espetáculo, apresentando a cantora Anna Torres e o baixista Paulo Lepetit, que estarão acompanhados da banda que participou da gravação do CD, o segundo de Flávio. A entrada é franca.

Com eles estarão Leandro Paccagnella (bateria), César Botinha (guitarra) e Amintas Brasileiro (sax e clarineta). Um convidado especial estará presente: o músico paulista Bocato, que domina o trombone como ninguém. Na apresentação de hoje, as 12 músicas e uma inédita – “Degrau por Degrau”, a primeira parceria entre Flávio e Anna – farão parte do repertório.

“Terra do Nunca” é um CD autoral e conceitual. “É um olhar urbano no momento em que o Brasil faz 500 anos”, explica Flávio Paiva, o grande responsável pela concepção artística do trabalho, que teve produção executiva de Mona Gadelha e Rosely Lordello e produção musical de Paulo Lepetit. Gravado entre agosto/96 e fevereiro/97, o disco foi masterizado em maio deste ano. “Um trabalho com a ótica do autor, no Brasil, não é muito comum, pois em geral a música é feita pensando nos intérpretes – aí acontecem os casos de patrimônios da música brasileira, como Fausto Nilo, Evaldo Gouveia e Ronaldo Bastos, que só gravaram discos agora”, explica. “Mas isso acontece pela necessidade do autor mostrar suas criações”.

Flávio escolheu a cantora maranhense Anna Torres e o baixista paulista Paulo Lepetit, para ajudarem nessa tarefa. Três mestiços migrantes e “aprendizes urbanos”. Paiva nasceu em Independência, na região dos Inhamuns, sertão do Ceará, a 330km de Fortaleza. Anna é natural de Lago da Pedra, faixa amazônica do Maranhão, distante mais de 350km de São Luis. Já Lepetit nasceu em Rio Claro , interior de São Paulo. “Terra do Nunca é a soma de dos três, um ménage à trois musical, com múltiplas influências e uma linguagem musical bastante contemporânea”. Flávio diz que tentou, nos arranjos, fugir dos clichês do Pop.

A cantora Anna Torres já é conhecida no Maranhão e mora atualmente no Rio de Janeiro. Já participou de um CD com a produção do músico Roberto Menescal. Na infância recebeu influências do cancioneiro popular do Norte, mas descobriu cedo a força do Soul e da Pop music. Já Lepetit toca há mais de 10 anos com o músico Itamar Assumpção. “Ele tem uma riqueza musical renovadora”, disse. Paiva, por sua vez, quando criança ouvia os violeiros e cantadores e no rádio, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Com a extinta revista Pop/Rock começou a tomar gosto pelos Rolling Stones, Led Zepellin, Aerosmith, Pink Floyd, entre outros.

Juntou a isso a influência do conjunto Secos e Molhados, onde comprovou que era possível ter uma postura pop brasileira. Caracterizado pelas grandes performances, o grupo foi um dos maiores da década de 70. Prova desse apreço Flávio deixa claro em seu CD , onde fez uma música em parceria com Tato Ficher, que fez parte do grupo.

Além dele, participam do CD dois artistas – Lanny Gordin e Rica Caveman. “O primeiro, foi o introdutor da ‘harmonia’ da guitarra no Brasil, o segundo representa a nova estética musical, já que é o Rap/reggaer da banda Nomad, de São Paulo”. Bocato também toca em 4 faixas do CD.

Além do show de hoje, estão programadas outras apresentações para mostrar “Terra do Nunca”. Amanhã, dentro do projeto BEC Seis e meia, no Theatro José de Alencar. No Sábado, no Brahma Cultural Aerocanta, no The Wall Bar, na Aerolândia. Domingo, o cenário para o show terá a Praia de Canoa Quebrada, em frente à Estátua de Dragão do Mar, às 18 horas.