O POVO – Vida & Arte – Fortaleza, 28/08/1997

 
O jornalista e compositor Flávio Paiva, lança hoje à noite seu segundo CD, Terra do Nunca, uma parceria com a cantora Anna Torres e o músico Paulo Lepetit.

Por Ingrid Coifman

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Paulo Lepetit, Flávio Paiva e Ana Torres: sotaque cearense, maranhense e paulista em CD conjunto


O CD Terra do Nunca, do jornalista e compositor Flávio Paiva, retrata o ambiente colonial em que vivemos. Busca o questionamento que dá sentido à vida e à vontade de fazer. Misto de indignação e esperança. Sentimento aliado às diversidades culturais e sociais existentes. A origem interiorana é o ponto de partida. O compositor Flávio Paiva, a cantora Anna Torres e o músico Paulo Lepetit, de Independência-CE, Lago da Pedra-MA e Rio Claro-SP, respectivamente, se uniram para “ler” a cidade. “Com nossa postura mestiça forte, de pessoas interioranas migrantes na cidade, respeitamos a pluralidade cultural e entendemos o urbano de outra forma”, explica. 

O convite para o trabalho em conjunto partiu do próprio Flávio que já conhecia Paulo Lepetit (produtor musical do CD), baixista da banda Isca de Polícia” e da cantora Anna Torres, representante do pop-soul nordestino. “Acho impressionante a harmonia do Paulo. Ele toca baixo como quem toca violão. Seus arranjos e experiência enriqueceram a música. A Anna é uma grande cantora e apresenta no show uma letra feita em parceria comigo, Degrau por Degrau , que não entrou no CD. A música fala da importância das conquistas femininas no mundo”. 

Apostando num “olhar surpreendente” para a cidade, o trio busca nas pequenas atividades do dia-a-dia algo diferente. Um exemplo disso é o bolero “Elevador”, cenário que ilustra a capa do CD, e que, para Flávio, revela a “imaturidade de convivência urbana”. Já a canção “Mestiça” fala justamente sobre a multiculturalidade presente em Terra do Nunca . “Vem me abraçar nessa alma de negro, de índio, e de branco também, a bela mistura, da vida silvestre, de fora na rua, de reggae e torém”, cantam os versos. 

O xote-rap “Xote para Sêneca”, explica Flávio, “mostra a realidade local” através do dueto de Anna Torres e Rica Caveman. A inspiração veio da cantora Daúde, que gravou a poesia de Patativa do Assaré no mesmo ritmo. Na música tema do CD “Terra do Nunca”, um adolescente tenta se divertir na cidade e encontra diversos obstáculos, como o relacionamento com a polícia. 

Flávio avalia o amadurecimento do segundo trabalho em comparação com o anterior, Rolimã – uma coletânea de diversos intérpretes cearenses: “O salto é visível em comparação com o primeiro CD, que apresentou faixas de variados estilos e influências, mas ao mesmo tempo quebradas, sem seqüência. Este trabalho atual tem unidade. Aprendi que a música não tem território, fronteiras ou barreiras”. 

Outros projetos? Flávio arremata: “Não faço planos, sou uma espécie de metamorfose ambulante e procuro exteriorizar minha emoção através dos meios, como a música. Simplesmente acontece quando tem de acontecer”.