Diário do Nordeste, Caderno 3, Fortaleza, 10/11/1998

Filmagem da música “Xote para Sêneca” foi realizada no Serviluz

Paulo Alcoforado 
Especial para o Caderno 3

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Flávio Paiva, o autor da música “Xote para Sêneca”, ao lado de Karla Holanda e Otávio Pedro, os realizadores do videoclipe que ganhou o Prêmio Dragão do Mar de Cinema e Video/98

Hoje, às 19 horas, será lançado o videoclipe “Xote para Sêneca”, de Otávio Pedro e Karla Holanda na sede da Associação dos Moradores do Serviluz. O videoclipe é o primeiro dos vencedores do Prêmio Dragão do Mar de Cinema e Vídeo/98 a ficar pronto.

A música escolhida foi “Xote para Sêneca”, do CD “Terra do Nunca”, de Flávio Paivs, lançado em 1997 com incentivo da Lei Jereissati. Alunos dos cursos de Estudos em Dramaturgia e Realização em Cinema e Televisão do Instituto Dragão do Mar, os realizadores contaram ainda com o apoio do Governo do Estado do Ceará, Instituto Dragão do Mar, Universidade Federal do Ceará, Casa Amarela Eusélio Oliveira e Plural de Cultura.

“Xote para Sêneca” surpreenderá àqueles que esperarem pelo que tem caracterizado o videoclipe atualmente – um coquetel de efeitos audiovisuais mais ou menos interessantes, não muito comprometidos com a música que o originou, suprindo apenas a sede de imagens dos consumidores da MTV, em detrimento das potencialidades do formato.

Mesmo as novas tecnologias, subutilizadas como arte decorativa, relegam ao videoplipe a condição de gênero menos que se desculpa culpando o show business pela sua mesmice enfadonha. Otávio Pedro e Karla Holanda se valeram do tema da música, inspirada na filosofia de Sêneca, de não perder o tempo com o jogo de aparências, entendendo a vida como sabedoria popular, para, partindo da Praça do Ferreira, se lançarem dentro da comunidade do Serviluz. Vê-se casas humildes, chão sem calçamento, falta de saneamento básico, a car~encia da comunidade, mas as pessoas nas imagens não são dignas de pena.

Ao contrário, diante do Farol do Mucuripe, casais de idosos, que não se perderam de sua condição de homens e mulheres, dançam sem pressa, sabedores da urgência de viver a vida. A nobreza dessas pessoas consiste no fato de elas não terem desistido, elas estão vivas, ainda pulsam e têm muito para dar.

Nem imagens descritivas, nem coreografias perfumadas; um olhar documental se abriu sobre não-atores moradores do Serviluz. Redescobriu-se a função social do videoclipe, e nada mais justo que fazer o lançamento de “Xote para Sêneca” onde foi filmado, para que a comunidade possa se reconhecer.

Além da exibição do videoclipe, informou Dona Mariazinha, presidente da Associação dos Moradores do Serviluz, a música “Xote para Sêneca” será coreografada por crianças, um grupo de jovens atores apresentará uma cena de uma peça, e ao final haverá uma festa, todas manifestações espontâneas da comunidade.

Sem dúvida, está é uma ótima oportunidade para avaliar o investimento do governo e reavaliar sua real extensão.